Disco da semana: Pearl Jam e um relâmpago sem trovoada
Disco da semana: Pearl Jam e um relâmpago sem trovoada
18 de outubro de 2013
Os Pearl Jam são uma das bandas que mais marcaram a década de 1990, com álbuns que ajudaram definir não só um género mas também uma geração. Mas a verdade é que o novo milénio serviu apenas para provar a longevidade do grupo, já que a criatividade tem ficado aquém do esperado. E este "Lightning Bolt" pouca luz traz aos grandes feitos de Eddie Vedder e companhia...
Não nos interpretem mal, o novo disco da banda de "Alive" ou "Daughter" não envergonha ninguém, mas também não é nenhuma pérola. É certo que muitos dos seus fãs de uma linha mais dura irão discordar, ou não fosse este álbum feito de canções sólidas, representativas do que é o rock norte-americano. Também é certo que a voz de Eddie Vedder é suficiente para dar algum encanto a qualquer tema. Mas a verdade é que ficamos sempre com a sensação de que há muito mais que a banda pode fazer e a culpa é de discos como "Ten" (1991), "Vs." (1993), "Vitalogy" (1994), "No Code" (1996) e "Yield" (1998), a sequência mais estimulante do seu percurso.
Assumimos que podemos estar presos aos dourados anos noventa. Muito daquilo que elevou os Pearl Jam ao estrelato é o mesmo que os tem mantido por mais de duas décadas numa indústria tão competitiva: concertos mágicos, uma capacidade de aliar momentos explosivos e melódicos ou a irreverência e integridade dos seus membros - que levou, por exemplo, a que o grupo não gravasse videoclips durante muitos anos.
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Quanto a música nova, pouco há a registar: os álbuns tornaram-se previsíveis, sem grandes ideias, conceitos ou identidade, parecendo muitas vezes meras colectâneas embrulhadas numa capa com assinatura Pearl Jam. E é a isto que soa "Lightning Bolt". Canções de rock clássico, com influências punk, metal e até de power ballads. Há claramente uma capacidade muito grande de Eddie Vedder e os seus pares de compor, mas são bem mais prolíficos do que inventivos.
O disco começa em modo enérgico. "Getaway", "Mind Your Manners", primeiro single, e "My Father's Son" juntam o punk às guitarras com influências metal. Segue-se "Sirens", a primeira balada, e o mais recente single, um exemplo perfeito da falta de imprevisibilidade na música da banda: aproxima-se demasiado (e muito perigosamente) do som feito por gente questionável como os Creed, Puddle of Mudd, Nickelback ou Staind, todos nomes que não deixaram grandes saudades.
O disco perde-se bastante nas baladas e só quando acelera é que ganha algum valor. "Lightning Bolt", tema que dá nome ao álbum, é um desses exemplos. Quando falamos de falta de criatividade referimo-nos a momentos como em "Sleeping by Myself", canção que também fez parte do projeto a solo de Vedder, Ukulele Songs. "Future Days" encerra o disco, é uma das seis canções escritas pelo vocalista, mas no fundo é mais do mesmo, uma power ballad muito pouco cativante.
"Lightning Bolt" não é, mesmo assim, um disco que manche a carreira dos Pearl Jam. Mas também não fica bem ao lado de clássicos como "Ten" ou "Vitalogy", que diziam tudo o que os Pearl Jam tinham para dizer. Até pode crescer se lhe dermos oportunidade e deverá resultar bem ao vivo, só que isso não chega. Não leva nota negativa porque as canções não chegam a ser más. Mas um aluno de média 18 não se pode contentar com um 11 ou um 12. Faltou juntar a trovoada ao relâmpago.